30 September 2008

30.09.2008 Odisseia no Espaço
by Isabel Motta Mendes// SPUTNIK* #11




Foi elaborado recentemente um estudo sobre a noção de Espaço. Esse estudo tinha como universo 1 indíviduos: Eu.

Concluiu o estudo o seguinte:

‘(...) O indíviduo está a ocupar um Espaço-Redactorial de 8 linhas de texto e 41 caracteres, ou melhor 45, 46… enfim…; habita num Espaço-Área de cerca de 60 metros2, circula a maior parte do tempo num Espaço-Local chamado Lisboa, e tirando quando está com a cabeça na lua, esse indivíduo não ocupa nenhum Espaço-Espacial. Quanto ao Espaço-Físico, digamos que deveria andar pelos 67 kg… (...)’.

Tratando-se, todos estes, de tipos de espaço que cada indivíduo ocupa - e que podem ser medidos - o que dizer do espaço ocupado pela personalidade de cada um?

A verdade é que as pessoas são diferentes e isso nota-se assim que conhecemos alguém. Ou melhor, assim que olhamos para alguém. A forma de vestir, de andar, de falar, de se movimentar, são códigos da personalidade de cada um.

Se juntarmos indivíduos diferentes, esses sinais são óbvios. Mas imaginemos 5 homens vestidos de fato. O corte do fato, a sua cor, a camisa, a gravata e os sapatos, indicarão, certamente, o tipo de pessoa que está refém naquele espaço confinado que é o fato. Com base nesses indícios poderemos ter pistas do espaço que cada um deles ocupa. Não em termos de volume, mas de personalidade.

E quando pensamos nas diferentes personalidades das pessoas que conhecemos ou sabemos existir, podemos dizer que há pessoas que são espaçosas: entram numa sala e enchem-na; entram nas nossas vidas e ocupam, ou invadem, o nosso espaço. Como se instalassem à vontade e sem cerimónia.

Outras, porém, não ocupam espaço quase nenhum. Onde quer que estejam, estão bem, não empatam, não atrapalham. Às vezes, até, nem se dá por elas. Ou dá-se mas sem que isso seja mau.

E depois há, ainda, as pessoas que ocupam o espaço certo e que, onde quer que cheguem ou estejam, encaixam na perfeição naquele espaço. Como se fossem a peça que falta num puzzle.

Se sentimos isto intuitivamente, talvez não fosse, então, má ideia, arranjarmos uma unidade de medida que indique aos restantes, e de antemão, o espaço que fulano de tal ocupa. Idealmente deveríamos encontrar uma fórmula matemática capaz de calcular o espaço ocupado por cada um.

A partir daí, tornava-se possível calcular uma média de espaço ocupado pelas pessoas na nossa esfera pessoal. Tipo: Indivíduo A, que ocupa X unidades de espaço, tem capacidade para sociabilizar com um número de pessoas cujo somatório de unidades de espaço ocupado oscile entre Y e Z.

Desta forma, nunca excederíamos os nossos limites e saberíamos que a partir de determinado número já estaríamos a incorrer no erro de nos darmos com quem não devemos. Ou saberíamos que, para fazermos um pleno, teríamos de incluir na nossa esfera pessoal pessoa A ou pessoa B.

Claro que, a ser assim, o conceito de tipologia teria de ser revisto. Em vez de metros quadrados, os anúncios passariam a usar a nova unidade de medida. Onde costumamos ver ‘apartamento T4, 30 metros2’, ler-se-ia ‘apartamento com X unidades de medida de espaço-pessoal e Y unidades de medida de espaço social’. Seria o princípio da sustentabilidade do espaço ocupado em sociedade: usar apenas o estritamente necessário.

A ser assim, se calhar, o Júlio Iglesias, apesar de ter aquela quantidade de filhos, não precisaria de ter uma casa tão grande na República Dominicana (para não falar nas outras espalhadas pelo mundo). Ou, se calhar, até precisaria.

Talvez também fosse possível que algum sociólogo ou psicólogo, ao acabar de ler este texto, encontrasse aqui um tema de uma tese, ou um psiquiatra, uma oportunidade de negócio. Posto isto, acabei por me esticar até às 23 linhas de texto e 621 caracteres. Quer dizer, 625.

...

30.09.2008 Space Odissey
by Isabel Motta Mendes

It was recently elaborated a survey on the concept of Space. This survey had a universe of 1 individuals: Me.

The study concluded the following matters:

‘(...)The individual is occupying an Editorial-Space of 8 text lines and 41 characters, rather 45, 46 ... whatever..., lives in an Area-Space with about 60m2, travels most of the time in a Location-Space called Lisbon, and, without counting when it has its head in the clouds, this individual does not occupy any Spatial-Space. As for the Physical-Space, let’s say it should be around 67 kg ... (...)’.

Being all these, different types of space that each individual occupies - and that can be measured – what can we say about the space occupied by the personality of an individual?

The truth is that people are different and you can see that once you know someone. Better, once you look at someone. The dress code, the walk, the speaking mannerS, the way it moves, are all codes of one’s personality.

Piecing together different individuals, these signs are obvious. But imagine 5 men dressed in a suit. The cut of the suit, its colour, the shirt, tie and shoes, will certainly state the kind of person held hostage, in that wearable and confined space that is the suit. Based on those evidences we may have clues about the space that each one occupies. Not in terms of volume, but, instead, of character.

And when we think about the different personalities of the people we know or that we know that exist, we can say that there are people who are spacious: they enter a room and fill it; they come into our lives and occupy or invade our space. As if they would accommodate themselves with no ceremony at all.

Others, however, don’t occupy almost any space. Wherever they are, they are ok, without stalling, without getting in the way. Sometimes they don’t even get noticed and if they are, that is not necessarily a bad thing.

And then there are also the people who occupy the right amount of space and that, wherever they are or be they fit perfectly in that space. As if they were that missing piece in a jigsaw puzzle.

If you feel this by hart, perhaps it wouldn't be a bad idea to find a measurement unit to that would indicate to others, and beforehand, the space that a certain individual occupies. Ideally we should find a mathematical formula capable of calculating the occupied space by each one of us.

That way, it would be possible to calculate an average of space occupied by the people inside our personal sphere. Example: Individual A, whom occupies X units of space, has the capacity to socialize with a number of people whose sum of space units ranges between Y and Z.

This way we would never exceed our boundaries and we would know that beyond a certain number, we would be incurring the error of getting along with somebody we shouldn’t. We would also know that for getting along with the right amount of people, we would have to include in our personal orbit, the A person or the B individual.

Being so, the typology concept would have to be revised. Instead of square meters, the ads would use the new unit of measure. Where you would see ' T4 apartment, 30 m2 ', you would read 'apartment with X units of personal-spatial measurement units and Y units of social space measures". It would be the sustainability of occupied space in society principle: use only what is strictly necessary.

In this case, maybe Julio Iglesias, although having so many children, wouldn’t need having such a big house in the Dominican Republic (not to mention the others he owns around the world). Or, perhaps, he would.

Eventually some sociologist or psychologist, after reading this text, can find in it the theme for developing some thesis about it, or, on the other hand, a psychiatrist can predict a business opportunity. Having said so, I stretched up to 23 lines of text and 621 characters. I mean 625.