Oklahoma City
By José Quitério // SPUTNIK* #04
Oklahoma City não ía referenciada como um dos “momentos” da viagem, pelo que o tempo programado tinha em mira mais o descanso que a cidade mas transformou-se num dia e meio cheio de curiosidades. Chegámos depois do almoço em Vinita, no former world’s largest McDonalds, um enorme arco dourado em ponte sobre a Interstate 44.
O Cattlemen’s Café está em Stockyards City há quase cem anos, a servir negociantes de gado, rancheiros e cowboys. Eis um bife que vale a pena, grande e alto, como por cá se não fazem, tenro, saboroso e fresco, acompanhado de salada e de uma deliciosa baked potato. Para a digestão passeia-se em volta, nas lojas especializadas em western wear and farm and ranch needs de onde se pode sair um cowboy de fazer esquecer o John Wayne.
Bricktown é um mega projecto de revitalização da downtown de OKC, umas docas inventadas pelo mayor, a troco de umas centenas de milhões de dólares, desenvolvendo-se em redor de um bonito canal onde se passeia de water taxi e onde ao fim da tarde os mosquitos não perdoam. À custa da comichão que a Lena teve de suportar nessa noite, no dia seguinte e por mais uma noite, descobrimos em Tucumcari (NM) uma realidade americana: Há aqui uma farmácia de serviço?, perguntámos ao jantar. Bem, vocês vão para Este ou para Oeste? É que para Este a farmácia de serviço mais próxima é a cerca de 100 milhas, para Oeste, a 160 milhas. Aqui há uma mas abre amanhã às 8H30. De facto abriu e a pomada fornecida resultou em pleno.
De volta à Bricktown: Toby Keith's I Love This Bar and Grille. América em estado puro. Um balcão onde dezenas de bebedores de cerveja conversam ao fim da tarde, mesas espaçosas e bem aparelhadas (sem toalha. Os americanos não usam toalhas), comida de muito bom aspecto e, ao que me dizem, de sabor condizente. Eu que nestas coisas sou muito conservador, optei por mais um bife. Quase tão bom como o do Cattlemen's. Há espaço para dançar frente ao palco onde as bandas convidadas tocam country music, que o Toby Keith é uma estrela e àquela hora actuava em Las Vegas. Nas paredes, guitarras decoradas com a stars and strips, harley’s, frentes de cadillac’s antigos e um écran que projecta imagens do patrão. Compro um CD? Confesso os limites da minha tolerância ideológica. O vídeo e as letras não deixam dúvidas. O homem (chapéu de cowboy, calça de ganga e tshirt muito justa sobre a qual brilha uma enorme cruz a realçar a musculatura) tem uma ementa especial para soldados e apoia todas as acções militares americanas no estrangeiro, porque sim. Não lhe fará diferença mas vai ter que vender o CD a outro.
O hall de entrada do National Cowboy and Western Heritage Museum é dominado pela famous 18-feet escultura The end of trail, de James Earle Fraser, representação ambígua da derrota das nações índias e passa-se a uma galeria onde se vende a arte do imaginário cowboy: esculturas de pôr nos móveis ou nos cantos da sala, sempre no mesmo registo minucioso e naturalista e pinturas tal qual que em Portugal já só se vêem em lojas de decoração vocacionadas para ricos recentes. E essa coisa assombrosa que é o cinema como fonte primária da história. Will Rogers, aliás, não deixará de nos acompanhar desde que o encontrámos pela primeira vez, no Mcdonalds de Vinita, até Santa Mónica e San Francisco.
Mas no Art Institute de Chicago a abarrotar de gente vi esse espanto que é o American Gothic – Grant Wood, 1930 -, acolitado por Picasso, Kandinsky, Magrite, Matisse, Warhol, O’Keefe, Pollack e Nauman e, no Getty de LA, vi Defining Modernity: European Drawings, 1800-1900.
O MoCa não me convenceu e o Gehry do Disney e do Millenium Park, continua sem me convencer. A arquitectura há-de ser mais que um revestimento ondulado de escamas de aço polido. O MoMa tem o Starry Night e o Rapaz com Cavalo e Les demoiselles d’Avignon e, naquelas horas de entradas gratuitas, tanta gente por metro quadrado como o nosso Metro em hora de ponta e, ao lado, a pista de gelo que já vimos nos filmes era uma esplanada bem apropriada ao calor de New York. Como é que tudo parece tão grande visto no écran? Como é que o Kodak Theater tem tanto glamour em noite de óscares se o Blvd Hollywood parece a Almirante Reis? Ah!, e o passeio da fama! Quando damos por ele já pisamos, pelo menos, três das nossas actrizes favoritas.
E já que aqui estamos voltemos aos bifes que também são óptimos no Sladder Saloon em Sunset Plaza, cheio de jovens adultos barulhentos que festejam um aniversário bebendo cerveja numa roda ao balcão, de onde às vezes um sai para testar equilíbrios no touro mecânico.
De sem-abrigos em Hollywood, da imensidão do Novo México e do Arizona, do Grand Canyon, de cidadezinhas de madeira, de camiões e comboios, do parque infantil para adultos conhecido por Las Vegas, de hamburgers, cheeseburgers e cheesecakes, de fat boys, de Times Square e Rodeo Dr, da simpatia e curiosidade dos americanos e do mais que a lembrança o permitir, falaremos noutra altura.
--- english version ---
Oklahoma City was not mencioned as one of the “high points” of the trip, considered that the time scheduled aimed for relax more than city tours, but it tourned into a day an a half full of curious things.
We arrived after lunch in Vinita, in the former world's largest McDonalds, a huge golden arch bridge over the Interstate 44.
The Cattlemen's Café is in Stockyards City almost hundred years, serving cattle dealers, ranchers and cowboys. Here a steak worth it, big and high, as in Portugal doesn't make it, tender, tasty and fresh, served with salad and a delicious baked potato. To digest we walk around, in stores specialized in western wear and farm and ranch needs, from where you can come out like a cowboy that make you forget John Wayne.
Bricktown is a huge project of revitalization of OKC downtown, docks created by the mayor, in exchange for a hundred of million dollars, spreading through the surrounding of a pretty channel where you can walk around by water taxi and where, at the end of the afternoon, mosquitoes are relentless. At the expense of itching Lena had to stand in that night, in the following day and for one more night, we found out in Tucumcari (NM) an american reality: Is there here a service farmacy?, we asked at diner. Well, Are you going to East or West? Because to East the closest service farmacy is at about 100 miles, to West, at 160 miles. Here there is one but it opens tomorrow at 8h30. As a matter of fact it opened and the cream that they provided it fully worked.
Back to Bricktown: Toby Keith's I Love This Bar and Grille. America 100%. A counter where tens of beer drinkers talk at the end of the day, roomy and good prepared tables (without table cloth. Americans don't use table cloths.), food looks good and, for what they said, the taste matches. As in this stuff I'm really conservative, I opted for one more steak. Almost so good as the one of Cattlemen's. There's space to dance in front of the stage, where guest bands play country music, cause Toby Keith is a star and at that time he was performing in Las Vegas. On the walls, stars and strips decorated guitars, harley's, old cadillac's fronts and a screen showing images of the boss. Do I buy a CD? I have to admit the restrictions of my ideological tolerance. The video, the lyrics don't leave any doubt. The man (cowboy's hat, jeans and a tight shirt where shines a huge cross to accentuate the muscles) has a special meal for soldiers, he supports all the american military actions abroad, just like that. It wouldn't make any difference, but he will have to sell the cd to somebody else.
National Cowboy and Western Heritage Museum entrance hall is dominated by the famous 18-feet sculpture The end of the trail, by James Earle Fraser, ambiguous representation of the Indian nations defeat, then we get into a gallery where they sell the art of the imaginary cowboy: sculptures made to decorate fornitures or living room corners, always in the same meticulous and naturalistic way and paintings that we can find in Portugal only in decoration's stores aimed to recent rich people. And this astonishing thing that is cinema as primary source of history. Will Rogers, actually, won't stop to follow us since we first found him in Vinita Mcdonalds to Santa Monica and San Francisco.
But in the Art Institute of Chicago, crowded with people I saw this amazing thing that is the American Gothic – Grant Wood, 1930 -, served by Picasso, Kandinsky, Magrite, Matisse, Warhol, O'Keefe, Pollack and Nauman and in the Getty in LA I saw Defining Modernity: European Drawings, 1800-1900.
The MoCa didn't convince me and Gehry of Disney and Millenium Park, still doesn't convince me. The arquitecture has to be more than a wrapping corrugated of polished steel plates. MoMa has the Starry Night, The boy with a horse and Les Demoiselles d'Avignon and in those hours of free entrance, so many people for square meter as our undergruond in the rush hour and on the side, the ice floor, that we already so in the movies, was a perfect terrace for New York heat. How is everything look so big on the screen? How is that Kodak Theater has so much glamour in the night of the Oscars if the Hollywood Boulevard looks like Almirante Reis? Ah!, the fame walk! When we notice it we have already walked on, at least, three of our favourite actresses.
And as you are here let's get back to steaks that are also great in the Sladder Saloon in Sunset Plaza, full of noisy growing up kids that celebrate an aniversary drinking beer around the counter, from where sometimes one come's out to check his balance on the mecanic bull.
About homeless in Hollywood, about the immensity of New Mexico and Arizona, Grand Canyon, wood little towns, tracks and trains, adult playgroung known as Las Vegas, hamburguers, cheesburgers, cheesecakes, fat boys, Times Square and Rodeo Dr, about americans kindness and curiosity, and about more things that memory allows, we will talk in other time.
to be continued