Paradise Village
By Benedetta Maxia // SPUTNIK* #03
1998, Anderson era locutor na Conexão FM, uma rádio comunitária de São Paulo. Mantinha no ar um programa focado na exclusão social. "Muitas pessoas entravam por telefone no ar e pediam cesta básica, emprego, além de reclamar sobre políticos e empresários. Era um programa que fazia sucesso no bairro, mas não tinha anunciantes"- relata Anderson. Ana era funcionária na mesma rádio. Desde 2001 são um casal de catadores de lixo da Associação dos Carrinheiros de Santos, entidade que agrupa as pessoas que como eles percorrem as ruas para recolher as latas, os plásticos e outros produtos recicláveis despejados nas ruas. Como muitos dos seus companheiros, Anderson desconversa em relação ao motivo de estar ali. "Um golpe financeiro do meu ex-sócio foi o motivo desse corte na minha vida. Tinha dívidas que não podia pagar. Eu dependia muito da rádio na capital". Com uma renda de 350 reais mensais no bolso, fruto de 12 horas diárias de trabalho, o catador sente orgulho do que faz e cita convictamente três motivos: ganhar dinheiro de forma digna, limpar a cidade e preservar o meio-ambiente...
Este é um dos inúmeros exemplos da indústria informal que surgiu da soma da enorme quantidade de lixo acumulada com a grande taxa de pobreza e desemprego que caracterizam a economia actual onde, como Wolfgang Sachs diz, «a produção origina riqueza e lixo e juntamente com a globalização da produção de riqueza cresce também a da produção de lixo».
Nas mega-urbes da América Latina, África e Ásia encontram-se milhares de pessoas que fazem da colecta selectiva de lixo o fruto da própria sobrevivência, dando origem, a uma nova geografia urbana de extensos aglomerados que se desenvolvem na periferia ou dentro de grandes lixeiras. Numa rápida viagem pelo globo encontramos locais como: Kibera, em Nairobi, a maior bidonville de África, que se estende por uma superfície de 250 hectares e onde vivem mais de 1 milhão de pessoas, sendo pelos menos 15% infectados pelo vírus da SIDA; Payatas em Quezon City (Filipinas), uma enorme lixeira a céu aberto onde moram mais de 300.000 pessoas, chamadas scavengers, com uma esperança de vida inferior a 40 anos, onde 35% das crianças têm tubercolose, pneumonia e má nutrição consequência dos fumos tóxicos provenientes do plástico e do lixo em decomposição; Catmon dumpsite (Malabon City), lixeira sobre a qual está construída a “aldeia” Dulong Hernandez, People's Village e Paradise Village, que, ao contrário do que os nomes possam indicar, não são lugares para turismo de luxo, mas sim dois enormes conjuntos de barracas que se encontram respectivamente no lado esquerdo e direito de Dulong Hernandez; Korogocho, situada ao pé da lixeira de Dandora, onde conflue todo o lixo da zona urbana de Nairobi, e que se estende por uma área de 1,5 km2 onde vivem cerca de 100-120 mil pessoas.
O Brasil, é um exemplo emblemático desta nova indústria informal. Todos os dias são produzidas em média 230 mil toneladas de lixo. Matéria prima suficiente para alimentar mais de 500 mil catadores de lixo contabilizados em todo o país. O desenvolvimento desta nova classe laboral é tão grande que até já existem especializações: catadores de rua, catadores de fábricas, catadores de latinhas e catadores de lixeiras. Existem pelo menos 24.000 catadores desta última categoria que moram no seu local de trabalho, dos quais 22% tem menos de 14 anos.
Na Argentina, mais concretamente em Buenos Aires, depois da crise económica de 2001, assistiu-se ao desenvolvimento exponêncial dos cartoneros ou cirujas, a parte invisível da Capital Federal que, passaram de 25mil a 40mil. Se deste número um quarto são cartoneros “históricos”, o resto são ex-empregados, ex-zapateros, ex-algo... A desvalorização do peso levou ao aumento do preço do papel, do cartão e do vidro, fazendo destes materiais a única esperança de sobrevivência destas pessoas. Por cada kg de cartão, os cartoneros recebem em média 41 cêntimos de pesos; 20 para um kg de garrafas, 14 e 10 respectivamente para papel branco e papel de jornal. O número de cartoneros é tão elevado que a empresa “Trenos” de Buenos Aires até já criou um serviço especial chamado pelos próprios trabalhadores “El Tren blanco” ou “El tren del fantasma” porque este comboio, com algumas carruagens que não têm assentos para que os cartoneros possam levar as suas próprias carretas, sai ao final da tarde da periferia de Buenos Aires com destino ao centro, para voltar à periferia às primeiras horas da manhã.
Mansheyet Nasr, mais conhecida como Zabbaleen City, é o coração do negócio do lixo do Cairo. Surgida nas últimas décadas é a mais importante dos cinco núcleos habitados pelos zabbaleen, onde vivem cerca de 30 a 40 mil pessoas. Os Zabbaleen têm uma verdadeira estrutura social que nasceu a partir da segunda metade do século passado. Muitos agricultores, chamados saidi, para fugir à fome emigraram do Sul do Egipto para o Cairo e para sobreviver começaram a recolher lixo para dar de comer aos próprios porcos. Depois, dos bairros centrais de Imbaba, foram afastados para a periferia do Cairo, em condições cada vez mais precárias, tanto que em 1996 o governo do Cairo concedeu-lhes uma licença para recolher o lixo e gerí-lo na própria maneira. Os Zabbaleen já têm o seu estatuto e representam um modelo para a solução dos problemas da recolha do lixo. No entanto, com as crescentes preocupações ecológicas, o lixo está a transformar-se num negócio de milhões e quatro empresas – as espanholas Enser e FCC e as italianas Jacorossi-Genesu e Ama – já mostraram interesse na gestão do lixo. O governo sabendo que tem uma bomba-relógio social nas mãos obrigou as quatro companhias a negociar directamente com os zabbaleen.
Actualmente os Zabbaleen, os Cartoneros, os Catadores de Lixos deste mundo prestam um serviço cada vez mais precioso a um planeta vulnerável e a uma sociedade que os marginaliza. Esta situação paradoxal é, desde há muitos anos, o foco de muitas organizações não governamentais que, para devolver a estas pessoas a dignidade que merecem, desenvolve diversos tipos de projectos adequados às diferentes realidades que caracterizam a indústria informal do lixo. Dois grandes eixos de intervenção têm sido postos em prática, por um lado existem os que “vivem do lixo” – como os cartoneros – aos quais, através de Associações e Cooperativas, tenta-se dar o mesmo estatuto que cada trabalhador possui. Do outro, os que “vivem no lixo”, condição que um mundo considerado civilizado e militante dos direitos humanos nem sequer devia ter permitido que existisse e que, agora, mesmo que seja demasiado tarde, necessita de acabar...
--- english version ---
1998, Anderson was working as radio announcer for Conexão FM, a community radio of São Paulo. The programme topic was social exclusion. “A lot of people were calling, asking on the air for living wage, job, besides complaining about politicians and business men. It was a successful programme in the district, but it didn’t have announcers” – report Anderson. Ana was working in the same radio. Since 2001 they are a couple of catadores de lixo of the Associação de Carrinheiros de Santos, organization that put together people that, like them, walk along the streets collecting can, plastic, and other recycling objects that were threw away. As many of his colleagues, Anderson changes the subject when we ask the reason why he ended there. “ A financial stroke of my ex-partner was the reason of this big change in my life. He had debts he couldn’t pay. I was depending a lot on the radio in the capital”. With 350 reais per month, result of 12 hours per day of work, the catador is proud of what is doing and he gives three reasons: earning money in a dignified way, cleaning the city and preserving the environment.
This is one of the many examples of the informal industry, arise from the sum of the huge quantity of accumulated rubbish and the big level of poverty and unemployment that characterise the current economy where, as Wolfgang Sachs says, «production origins wealth and rubbish and together with wealth production globalization grows the rubbish production too».
In South American, African and Asian mega cities we can find thousand of people who make of the selective collection of rubbish the fruit of their survival, giving rise to a new urban geography made by wide built-up areas that spread out in the suburbs or inside the rubbish dumps. In a quick trip across the globe we can find places like: Kibera, in Nairobi, the biggest slum of Africa, extended on a 250 hectares surface where live more than a million people, being the 15% infected by AIDS; Payatas in Quezon City (Philippine), a huge open air rubbish dump where live more than 300.000 people, called scavengers. The life hope is less than 40 years old, 35% of the children suffer of tuberculoses, pneumonia and bad nutrition, consequences of the toxic smokes coming from plastic and rubbish decomposition; Catmon Dumpsite (Malabon City), rubbish dump where on its top was built the “village” Dulong Hernandez, People's Village e Paradise Village, that, on the contrary of what the names could suggest, are not luxury tourism destinations, but rather two enormous group of huts, settled respectively on the left and on the right side of Dulong Hernandez; Korogocho, situated near the rubbish dump of Dandora that receives all Nairobi waste and it covers a 1,5 km2 area where live approximately 100-120 thousand people.
Brazil is an emblematic example of this new informal industry. Every day, 230 thousand tonnes of rubbish are produced. Enough raw material to feed more than 500.000 catadores de lixo counted all over the country. The growing of this new working class is so high that even exist specializations: street catadores, industry catadores, can catadores and rubbish dump catadores. In this last category there are at least 24.000 catadores who live in their workstation and 22% are less than 14 years old.
In Argentina, more specifically in Buenos Aires, after the 2001 economical crises, we assisted of an exponential development of cartoneros or cirujas, the invisible part of the Federal Capital that grew from 25.000 to 40.000 people. If a quarter of this number is represented by “historical” cartoneros, the rest are ex-employees, ex-shoemakers, ex-something… Peso devaluation brought to rise in paper, cardboard and glass prices, making those material the unique hope of survival of this people. For each Kg of cardboard cartoneros receive on average 41 cents of peso; 20 for a Kg of bottles, 14 and 10 respectively for white paper and newspaper. Cartoneros number is so high that the enterprise “Trenos” of Buenos Aires even created a special service called by its own passengers ““El Tren blanco / The white Train” or “El tren del fantasma / The ghost train”, because this train, conceived with some carriages that don’t have sits to let the cartoneros bring their carretas, leaves at the end of the evening from Buenos Aires suburbs to the centre, and gets back to the suburbs in the first hours of the morning.
Mansheyet Nasr,well known as Zabbaleen City, is the heart of the rubbish business of Cairo. It came up in the last decades and it is the most important of the five built-up areas occupied by the zabbaleen (in Arabic: garbage people), where live about 30.000-40.000 people. The Zabbaleen have a real social structure that was born in the second half of the last century. A lot of farmers, called saidi, to run away from hunger, emigrated from the south of Egypt to Cairo and to survive they started collecting rubbish to give their pigs to eat. Later, from the central districts of Imbaba they were took away in the Cairo suburbs, in even more precarious conditions, so that Cairo authorities granted them a license to collect the garbage and to manage it in their own way. Zabbaleen already have their statute and they represent a model for the solutions of the rubbish collection problems. Meantime, with the increasing of ecological worries, garbage is turning into a millionaire business and four enterprises – the Spanish Enser and FCC and the Italians Jacorossi-Genesu and Ama – already shown their interest in the rubbish management. The government who knows that he has a social time bomb in his hands forced the four enterprises to negotiate directly with the Zabbaleen.
Currently the Zabbaleen, the cartoneros and the catadores of this world provide a more and more precious service to our vulnerable planet and to a society that marginalizes them. This paradoxical situation is, since many years, the main interest of many NGO that, to give those people back the dignity they deserve, is developing several projects appropriate to the different realities that characterise the informal industry of rubbish. Two big intervention basis have been put into practise: on one side there are those who “live on rubbish” – as the cartoneros- to whom, through associations and cooperatives, they are trying to give the same statute as any other worker has. On the other side, those who “live in the rubbish”, condition that a world, considered civilised and a human rights militant, shouldn’t even allowed it to exist and that, now, even if it is too late, needs to end…
PARADISE VILLAGE LINK'S: .................................................................................................
Statistics: http://www.ucl.ac.uk/dpu-projects/Global_Report/home.htm Communities: http://www.movimentodoscatadores.org.br/ e http://www.eltrenblanco.com.ar/video.htm Recycling: http://www.lixo.com.br/index.html e http://www.epa.gov/recyclecity/ Photos: http://www.centoiso.com/work/020605.asp
By Benedetta Maxia // SPUTNIK* #03
1998, Anderson era locutor na Conexão FM, uma rádio comunitária de São Paulo. Mantinha no ar um programa focado na exclusão social. "Muitas pessoas entravam por telefone no ar e pediam cesta básica, emprego, além de reclamar sobre políticos e empresários. Era um programa que fazia sucesso no bairro, mas não tinha anunciantes"- relata Anderson. Ana era funcionária na mesma rádio. Desde 2001 são um casal de catadores de lixo da Associação dos Carrinheiros de Santos, entidade que agrupa as pessoas que como eles percorrem as ruas para recolher as latas, os plásticos e outros produtos recicláveis despejados nas ruas. Como muitos dos seus companheiros, Anderson desconversa em relação ao motivo de estar ali. "Um golpe financeiro do meu ex-sócio foi o motivo desse corte na minha vida. Tinha dívidas que não podia pagar. Eu dependia muito da rádio na capital". Com uma renda de 350 reais mensais no bolso, fruto de 12 horas diárias de trabalho, o catador sente orgulho do que faz e cita convictamente três motivos: ganhar dinheiro de forma digna, limpar a cidade e preservar o meio-ambiente...
Este é um dos inúmeros exemplos da indústria informal que surgiu da soma da enorme quantidade de lixo acumulada com a grande taxa de pobreza e desemprego que caracterizam a economia actual onde, como Wolfgang Sachs diz, «a produção origina riqueza e lixo e juntamente com a globalização da produção de riqueza cresce também a da produção de lixo».
Nas mega-urbes da América Latina, África e Ásia encontram-se milhares de pessoas que fazem da colecta selectiva de lixo o fruto da própria sobrevivência, dando origem, a uma nova geografia urbana de extensos aglomerados que se desenvolvem na periferia ou dentro de grandes lixeiras. Numa rápida viagem pelo globo encontramos locais como: Kibera, em Nairobi, a maior bidonville de África, que se estende por uma superfície de 250 hectares e onde vivem mais de 1 milhão de pessoas, sendo pelos menos 15% infectados pelo vírus da SIDA; Payatas em Quezon City (Filipinas), uma enorme lixeira a céu aberto onde moram mais de 300.000 pessoas, chamadas scavengers, com uma esperança de vida inferior a 40 anos, onde 35% das crianças têm tubercolose, pneumonia e má nutrição consequência dos fumos tóxicos provenientes do plástico e do lixo em decomposição; Catmon dumpsite (Malabon City), lixeira sobre a qual está construída a “aldeia” Dulong Hernandez, People's Village e Paradise Village, que, ao contrário do que os nomes possam indicar, não são lugares para turismo de luxo, mas sim dois enormes conjuntos de barracas que se encontram respectivamente no lado esquerdo e direito de Dulong Hernandez; Korogocho, situada ao pé da lixeira de Dandora, onde conflue todo o lixo da zona urbana de Nairobi, e que se estende por uma área de 1,5 km2 onde vivem cerca de 100-120 mil pessoas.
O Brasil, é um exemplo emblemático desta nova indústria informal. Todos os dias são produzidas em média 230 mil toneladas de lixo. Matéria prima suficiente para alimentar mais de 500 mil catadores de lixo contabilizados em todo o país. O desenvolvimento desta nova classe laboral é tão grande que até já existem especializações: catadores de rua, catadores de fábricas, catadores de latinhas e catadores de lixeiras. Existem pelo menos 24.000 catadores desta última categoria que moram no seu local de trabalho, dos quais 22% tem menos de 14 anos.
Na Argentina, mais concretamente em Buenos Aires, depois da crise económica de 2001, assistiu-se ao desenvolvimento exponêncial dos cartoneros ou cirujas, a parte invisível da Capital Federal que, passaram de 25mil a 40mil. Se deste número um quarto são cartoneros “históricos”, o resto são ex-empregados, ex-zapateros, ex-algo... A desvalorização do peso levou ao aumento do preço do papel, do cartão e do vidro, fazendo destes materiais a única esperança de sobrevivência destas pessoas. Por cada kg de cartão, os cartoneros recebem em média 41 cêntimos de pesos; 20 para um kg de garrafas, 14 e 10 respectivamente para papel branco e papel de jornal. O número de cartoneros é tão elevado que a empresa “Trenos” de Buenos Aires até já criou um serviço especial chamado pelos próprios trabalhadores “El Tren blanco” ou “El tren del fantasma” porque este comboio, com algumas carruagens que não têm assentos para que os cartoneros possam levar as suas próprias carretas, sai ao final da tarde da periferia de Buenos Aires com destino ao centro, para voltar à periferia às primeiras horas da manhã.
Mansheyet Nasr, mais conhecida como Zabbaleen City, é o coração do negócio do lixo do Cairo. Surgida nas últimas décadas é a mais importante dos cinco núcleos habitados pelos zabbaleen, onde vivem cerca de 30 a 40 mil pessoas. Os Zabbaleen têm uma verdadeira estrutura social que nasceu a partir da segunda metade do século passado. Muitos agricultores, chamados saidi, para fugir à fome emigraram do Sul do Egipto para o Cairo e para sobreviver começaram a recolher lixo para dar de comer aos próprios porcos. Depois, dos bairros centrais de Imbaba, foram afastados para a periferia do Cairo, em condições cada vez mais precárias, tanto que em 1996 o governo do Cairo concedeu-lhes uma licença para recolher o lixo e gerí-lo na própria maneira. Os Zabbaleen já têm o seu estatuto e representam um modelo para a solução dos problemas da recolha do lixo. No entanto, com as crescentes preocupações ecológicas, o lixo está a transformar-se num negócio de milhões e quatro empresas – as espanholas Enser e FCC e as italianas Jacorossi-Genesu e Ama – já mostraram interesse na gestão do lixo. O governo sabendo que tem uma bomba-relógio social nas mãos obrigou as quatro companhias a negociar directamente com os zabbaleen.
Actualmente os Zabbaleen, os Cartoneros, os Catadores de Lixos deste mundo prestam um serviço cada vez mais precioso a um planeta vulnerável e a uma sociedade que os marginaliza. Esta situação paradoxal é, desde há muitos anos, o foco de muitas organizações não governamentais que, para devolver a estas pessoas a dignidade que merecem, desenvolve diversos tipos de projectos adequados às diferentes realidades que caracterizam a indústria informal do lixo. Dois grandes eixos de intervenção têm sido postos em prática, por um lado existem os que “vivem do lixo” – como os cartoneros – aos quais, através de Associações e Cooperativas, tenta-se dar o mesmo estatuto que cada trabalhador possui. Do outro, os que “vivem no lixo”, condição que um mundo considerado civilizado e militante dos direitos humanos nem sequer devia ter permitido que existisse e que, agora, mesmo que seja demasiado tarde, necessita de acabar...
--- english version ---
1998, Anderson was working as radio announcer for Conexão FM, a community radio of São Paulo. The programme topic was social exclusion. “A lot of people were calling, asking on the air for living wage, job, besides complaining about politicians and business men. It was a successful programme in the district, but it didn’t have announcers” – report Anderson. Ana was working in the same radio. Since 2001 they are a couple of catadores de lixo of the Associação de Carrinheiros de Santos, organization that put together people that, like them, walk along the streets collecting can, plastic, and other recycling objects that were threw away. As many of his colleagues, Anderson changes the subject when we ask the reason why he ended there. “ A financial stroke of my ex-partner was the reason of this big change in my life. He had debts he couldn’t pay. I was depending a lot on the radio in the capital”. With 350 reais per month, result of 12 hours per day of work, the catador is proud of what is doing and he gives three reasons: earning money in a dignified way, cleaning the city and preserving the environment.
This is one of the many examples of the informal industry, arise from the sum of the huge quantity of accumulated rubbish and the big level of poverty and unemployment that characterise the current economy where, as Wolfgang Sachs says, «production origins wealth and rubbish and together with wealth production globalization grows the rubbish production too».
In South American, African and Asian mega cities we can find thousand of people who make of the selective collection of rubbish the fruit of their survival, giving rise to a new urban geography made by wide built-up areas that spread out in the suburbs or inside the rubbish dumps. In a quick trip across the globe we can find places like: Kibera, in Nairobi, the biggest slum of Africa, extended on a 250 hectares surface where live more than a million people, being the 15% infected by AIDS; Payatas in Quezon City (Philippine), a huge open air rubbish dump where live more than 300.000 people, called scavengers. The life hope is less than 40 years old, 35% of the children suffer of tuberculoses, pneumonia and bad nutrition, consequences of the toxic smokes coming from plastic and rubbish decomposition; Catmon Dumpsite (Malabon City), rubbish dump where on its top was built the “village” Dulong Hernandez, People's Village e Paradise Village, that, on the contrary of what the names could suggest, are not luxury tourism destinations, but rather two enormous group of huts, settled respectively on the left and on the right side of Dulong Hernandez; Korogocho, situated near the rubbish dump of Dandora that receives all Nairobi waste and it covers a 1,5 km2 area where live approximately 100-120 thousand people.
Brazil is an emblematic example of this new informal industry. Every day, 230 thousand tonnes of rubbish are produced. Enough raw material to feed more than 500.000 catadores de lixo counted all over the country. The growing of this new working class is so high that even exist specializations: street catadores, industry catadores, can catadores and rubbish dump catadores. In this last category there are at least 24.000 catadores who live in their workstation and 22% are less than 14 years old.
In Argentina, more specifically in Buenos Aires, after the 2001 economical crises, we assisted of an exponential development of cartoneros or cirujas, the invisible part of the Federal Capital that grew from 25.000 to 40.000 people. If a quarter of this number is represented by “historical” cartoneros, the rest are ex-employees, ex-shoemakers, ex-something… Peso devaluation brought to rise in paper, cardboard and glass prices, making those material the unique hope of survival of this people. For each Kg of cardboard cartoneros receive on average 41 cents of peso; 20 for a Kg of bottles, 14 and 10 respectively for white paper and newspaper. Cartoneros number is so high that the enterprise “Trenos” of Buenos Aires even created a special service called by its own passengers ““El Tren blanco / The white Train” or “El tren del fantasma / The ghost train”, because this train, conceived with some carriages that don’t have sits to let the cartoneros bring their carretas, leaves at the end of the evening from Buenos Aires suburbs to the centre, and gets back to the suburbs in the first hours of the morning.
Mansheyet Nasr,well known as Zabbaleen City, is the heart of the rubbish business of Cairo. It came up in the last decades and it is the most important of the five built-up areas occupied by the zabbaleen (in Arabic: garbage people), where live about 30.000-40.000 people. The Zabbaleen have a real social structure that was born in the second half of the last century. A lot of farmers, called saidi, to run away from hunger, emigrated from the south of Egypt to Cairo and to survive they started collecting rubbish to give their pigs to eat. Later, from the central districts of Imbaba they were took away in the Cairo suburbs, in even more precarious conditions, so that Cairo authorities granted them a license to collect the garbage and to manage it in their own way. Zabbaleen already have their statute and they represent a model for the solutions of the rubbish collection problems. Meantime, with the increasing of ecological worries, garbage is turning into a millionaire business and four enterprises – the Spanish Enser and FCC and the Italians Jacorossi-Genesu and Ama – already shown their interest in the rubbish management. The government who knows that he has a social time bomb in his hands forced the four enterprises to negotiate directly with the Zabbaleen.
Currently the Zabbaleen, the cartoneros and the catadores of this world provide a more and more precious service to our vulnerable planet and to a society that marginalizes them. This paradoxical situation is, since many years, the main interest of many NGO that, to give those people back the dignity they deserve, is developing several projects appropriate to the different realities that characterise the informal industry of rubbish. Two big intervention basis have been put into practise: on one side there are those who “live on rubbish” – as the cartoneros- to whom, through associations and cooperatives, they are trying to give the same statute as any other worker has. On the other side, those who “live in the rubbish”, condition that a world, considered civilised and a human rights militant, shouldn’t even allowed it to exist and that, now, even if it is too late, needs to end…
PARADISE VILLAGE LINK'S: .................................................................................................
Statistics: http://www.ucl.ac.uk/dpu-projects/Global_Report/home.htm Communities: http://www.movimentodoscatadores.org.br/ e http://www.eltrenblanco.com.ar/video.htm Recycling: http://www.lixo.com.br/index.html e http://www.epa.gov/recyclecity/ Photos: http://www.centoiso.com/work/020605.asp